Por que Perl?

Breno G. de Oliveira
Publicado em 01/03/2011

Por que Perl?

Este não é um artigo de "evangelização". Não vou perder meu tempo - nem o seu - com palavras fanáticas de um programador apaixonado, repetidas como um mantra religioso. Claro, seria um discuso ótimo para novatos, perdidos na infinidade de opções de linguagem de programação, implorando para que alguém lhes aponte a bala de prata, a solução mágica e definitiva capaz de resolver todos os problemas do planeta. Mas o mesmo discurso que encanta o iniciante é imediatamente descartado por aqueles que em algum momento foram direcionados a outra bala de prata e nela criaram sua zona de conforto. Os que insistem - de forma igualmente irracional e fanática - na noção infantil de que tudo que não é seu é feio, ultrapassado e inútil.

Não. A escolha de Perl 5 como linguagem principal (notem: principal, não única) para o projeto OpenData-BR não foi movida por fanatismo. Foi uma escolha consciente. Quase inevitável. E neste artigo vamos falar um pouco mais sobre os motivos que nos levaram a essa conclusão.

A primeira coisa que devemos observar é que estamos usando o termo "Perl 5". Esse não é o Perl de scripts sujos e deselegantes dos anos 1990. Não estamos falando de uma linguagem de extensão para shell-scripts. Estamos falando de Perl Moderno.

Perl é uma linguagem em constante renovação

Perl se orgulha em acompanhar de perto o que está sendo feito em outras linguagens de programação, e não tem medo de adotar o que funciona e descartar o que não dá certo.

Hoje em sua 12a versão, o Perl 5 moderno é uma linguagem de uso geral, flexível e poderosa, que permite programação orientada a objetos, funcional, procedural, ou orientada a eventos. Ao adotarmos Perl não ficamos presos a um ou outro paradigma, e colaboradores tem liberdade para escolher a forma que mais se adeque ao problema em questão e à sua forma de pensar.

Ao mesmo tempo, a forte preocupação do Perl com retro-compatibilidade é muito importante, e permite que projetos como o OpenData utilizem todo esse poder e executem sem problemas em versões do perl lançadas hoje, a 5 anos atrás, ou daqui a 5 anos, sem qualquer modificação.

Perl roda em mais de 100 plataformas diferentes, de portáteis a mainframes, e sua poderosa infraestrutura de testes para módulos dá ao OpenData e seus subprojetos acesso imediato à uma detalhada matriz de compatibilidade entre versões, sistemas operacionais e arquiteturas, para que possamos verificar e garantir a qualidade do código disponibilizado facilmente.

Perl reduz riscos de negócio

Perl é software livre, e não está amarrado a nenhuma empresa. A linguagem não fica limitada à saúde financeira de uma empresa ou às vontades de seus acionistas. Qualquer um pode verificar o código-fonte, enviar relatórios de erro, escrever correções ou compilar sua própria versão.

De fato, Perl possui uma comunidade ativa de mais de 8000 contribuidores em todo o mundo, mais de 200 destes trabalhando diretamente no núcleo da linguagem. Novas versões do Perl são lançadas regularmente, uma por ano, com pelo menos dois releases de manutenção nesse intervalo, sem contar os releases mensais da versão em desenvolvimento, que nos permite testar código e identificar problemas em novas versões antes mesmo delas terem sido lançadas.

A estabilidade e robustez do Perl são garantidas por anos de maturidade e uma suíte de mais de 92.000 testes para a linguagem, sem contar os milhares de testes presentes em seus diversos módulos auxiliares. O código interno do Perl foi certificado como possuidor de uma baixíssima densidade de defeitos, e passou na validação de segurança do Department of index.tland Security dos EUA. Perl possui ainda o modo "taint", que analisa e discrimina entradas externas ao código - de usuários, arquivos ou via Internet - para evitar problemas mais comuns de segurança.

Tudo isso fez com que Perl fosse adotado para projetos de missão crítica em todo o mundo, de sistemas de telecomunicações e finanças a sites na lista dos 100 mais acessados do mundo.

Por ser uma linguagem de alto nível, desenvolvedores perdem menos tempo preocupados com gerenciamento de memória ou tipificação de variáveis e mais nos objetivos do programa em si. Desenvolvimento ágil é fundamental para projetos em larga escala como o OpenData, e Perl provou ser uma ótima opção nesse quesito.

Perl se destaca no tratamento de informações

E "tratamento de informações" é o centro do OpenData. Perl possui suporte nativo a unicode, manipulação eficiente de strings e o mais poderoso sistema de expressões regulares da atualidade.

Como veremos ao longo deste equinócio, Perl oferece uma série de módulos para realizar parsing eficiente de conteúdo HTML e facilmente gerar e interagir com web services em JSON, XML ou YAML. Isso é fundamental para o sucesso de um projeto como o OpenData. Mesmo formatos mais esotéricos para disposição de dados públicos na Internet conseguem ser tratados com Perl para melhor visualização pela população.

Mas coleta e separação de informações públicas são apenas metade da equação. Outra vantagem significativa de Perl para este projeto está na formatação das informações coletadas para exibição e interpretação pela população. Além de ser capaz de converter entre formatos facilmente, Perl permite a geração de diversos gráficos estáticos e dinâmicos.

Outro desafio para o OpenData é a comunicação entre sistemas e interfaces. Para isso, além da natural habilidade de conversão entre formatações, processamento distribuido e interconectividade de rede, Perl oferece uma interface completa de integração de bancos de dados, capaz de conectar-se da bancos MySQL, Oracle, Sybase, Postgres, SQLite e muitos outros sem o menor esforço. Podemos até mesmo converter SQL entre diferentes sintaxes específicas de determinados bancos.

90% do seu programa já esta pronto

Com mais de 22.000 distribuições e 90.000 módulos, e uma média acima de 200 uploads por mês, encontramos no CPAN todos os componentes necessários para reduzir dramaticamente os ciclos de desenvolvimento e nos concentrarmos praticamente apenas na lógica do software em si, tornando o desenvolvimento do OpenData e seus subprojetos algo rápido, gratificante e prazeroso.

Baby-Perl é fácil de aprender

Dominar qualquer linguagem de programação é algo que requer anos de experiência prática. Mas em Perl a barreira de entrada é muito baixa, e isso é importantíssimo para projetos como o OpenData.

Alguém que nunca programou antes, em poucas horas já consegue escrever programas simples de coleta, manipulação e armazenamento de dados. Se você já é proficiente em outra linguagem de programação, esse intervalo cai para apenas alguns minutos, o suficiente para se familiarizar com a sintaxe.

Comunidade vibrante e pronta para ajudar

Os "Perl Mongers" possuem comunidades de desenvolvedores e entusiastas espalhadas por todo o planeta e crescendo a cada dia, com listas de discussão para que novatos possam tirar suas dúvidas e comentar novos projetos, encontros sociais, técnicos, participação em redes sociais, fóruns de tecnologia, eventos de software livre e muitos mais.

Este ano, por exemplo, haverá um excelente Workshop em São Paulo com presenças internacionais de peso falando sobre soluções modernas em Perl, e o tradicional YAPC no Rio de Janeiro, uma conferência anual da comunidade Perl para a comunidade Perl, onde todos são convidados para apresentar seus projetos e discutir novas técnicas, módulos, conceitos, e muito mais.

Você está presenciando parte disso neste exato momento com o Equinócio, que mobilizou voluntários de todo o país para a confecção de material de qualidade para ampliar seu conhecimento e diminuir ainda mais a barreira de entrada no projeto OpenData.

Esse tipo de apoio da comunidade é fundamental para a longevidade de projetos como o OpenData, movidos pela própria comunidade.

Conclusão

Programadores experientes provavelmente reconheceram aqui vantagens de suas próprias linguagens de programação favoritas. Python é ótima para aprender a programar, Ruby possui muitos módulos auxiliares, Java é robusto, Lua é elegante, PHP é extremamente popular, Haskell é flexível, Smalltalk é reflexiva, entre tantas outras linguagens fantásticas.

Perl não é melhor ou pior que qualquer outra linguagem, e pode não satisfazer as necessidades de seu projeto específico. Mas, para o OpenData, as características acima aliadas à enorme capacidade de integrar soluções em diferentes linguagens e interfaces fazem do Perl moderno a escolha certa para um projeto tão ambicioso e multifacetado.

Estamos ansiosos para ajudá-lo a quebrar mais uma barreira e adicionar mais uma linguagem ao seu repertório. Ao longo deste Equinócio, você verá artigos com dicas da linguagem e de alguns dos diversos módulos para entrar de cabeça no hacking de dados públicos.

Faça valer sua voz na democracia. Venha fazer parte da comunidade OpenData-BR!

Autor

Breno G. de Oliveira <garu@cpan.org>

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