CSV: ENTRE PIPE E DBMS

Stanislaw Pusep
Publicado em 01/03/2011

CSV: ENTRE PIPE E DBMS

INTRODUÇÃO

O formato CSV (Comma-Separated Values) é o verdadeiro "idioma inglês" para a transferência de dados: quase todo aplicativo de planilha (spreadsheet) ou DBMS (Database Management System) oferece CSV como o formato de importação ou exportação.

Único "formato" que pode ser considerado mais simples do que CSV é o TSV (Tab-Separated Values), que nada mais é do que um caso particular de CSV. O formato TSV está de certa forma hard-coded em scripts de shell, por exemplo, xinput -list | cut -f 2 retorna os identificadores dos dispositivos de entrada do X11. O próprio Perl já lida muito bem com os dados delimitados, via inline:

    # extrai o PID e a linha de comando dos processos operantes
    ps auwx | perl -anE '$,="\t"; say @F[1,10]'

Do ponto de vista da eficiência, separar pelo delimitador é muito melhor, entretanto, alguns dados são suficientemente elaborados a ponto de empregarem o próprio delimitador como parte dos dados. Por outro lado, colunas separadas por caractere invisível definitivamente não são uma forma human-readable de representar os dados, especialmente quando existem muitas colunas e/ou colunas de valor indefinido.

É aí que entra o CSV. Apesar de não existir uma padronização rígida do que seja um CSV válido, o formato é suficientemente intuitivo e a definição em RFC 4180 já ajuda bastante.

Claro que é possível implementar um parser de CSV from scratch, é só uma questão de tratar do escaping dos delimitadores; mas, felizmente, CPAN já tem soluções robustas para todo gosto!

MÓDULOS DE CPAN PARA TRATAR CSV

Uma busca por "CSV" no CPAN retorna muitas variações sobre o tema. Sem o intuito de desmerecer as outras soluções, focarei apenas em Text::CSV, Tie::Handle::CSV e DBD::CSV, por serem abordagens bastante ortogonais.

Text::CSV

Text::CSV é a opção mais flexível, grava e lê tanto arquivos como strings, e serve como base para muitos outros módulos (inclusive os outros dois que explicarei adiante).

Quando column_names são definidos (através de um ArrayRef), podemos usar getline_hr, que retorna HashRef para cada linha processada. Já getline retorna ArrayRef diretamente. Dica: a primeira linha do CSV frequentemente traz os nomes das colunas. Leia estes com getline e passe para column_names. O resto do arquivo pode ser lido com getline_hr.

Para gerar CSV, pode ser usado print, que grava diretamente num FileHandle, ou combinação de combine e string para gerar buffer.

Mas vamos botando a mão na massa. Temos o seguinte CSV, e precisamos filtrar ele, deixando apenas código identificador, nome da cidade e UF:

    estado,cidade,longitude,latitude,link
    MG,Santa Maria do Salto,-40.14935,-16.24953,http://www.sidra.ibge.gov.br/bda/territorio/infomun.asp?codmun=3158102
    ES,Marilândia,-40.54236,-19.41355,http://www.sidra.ibge.gov.br/bda/territorio/infomun.asp?codmun=3203353
    GO,Estrela do Norte,-49.07341,-13.86851,http://www.sidra.ibge.gov.br/bda/territorio/infomun.asp?codmun=5207501
    ...

Segue o script que emprega o Text::CSV para isso:

    #!/usr/bin/perl
    use strict;
    use utf8;
    use warnings 'all';

    use open ':locale';

    use Data::Dumper;
    use Text::CSV;

    # Não é necessário definir EOL quando só vamos *ler* o CSV,
    # pois o valor de $/ será usado automaticamente.
    # Já para gravação, precisa definir (não sei se é bug).
    my $csv = new Text::CSV({ eol => "\n" })
    or die "Erro com Text::CSV: " . Text::CSV->error_diag;

    # Assume que a codificação do arquivo é UTF-8.
    open my $fh, '<:utf8', # $csv- '7marco2011.csv'; a colunas. csv das do e extrai linha nomes os pega primeira>column_names($csv->getline($fh));

    # Pega todas as outras linhas e retorna para cada um HashRef
    # aonde as chaves são os nomes das colunas.
    while (my $row = $csv->getline_hr($fh)) {
        ($row->{código}) = ($row->{link} =~ m{\bcodmun=([0-9]+)\b}i);
        print STDERR Dumper $row;
        $csv->print(\*STDOUT, [ map { $row->{$_} // '' } qw(código cidade estado) ]);
    }
    $csv->eof or $csv->error_diag;
    close $fh;

O output será:

    ...
    $VAR1 = {
              'link' => 'http://www.sidra.ibge.gov.br/bda/territorio/infomun.asp?codmun=4109609',
              'cidade' => 'Guaratuba',
              'longitude' => '-48.57544',
              'latitude' => '-25.88355',
              'código' => '4109609',
              'estado' => 'PA'
            };
    4109609,Guaratuba,PA
    $VAR1 = {
              'link' => 'http://www.sidra.ibge.gov.br/bda/territorio/infomun.asp?codmun=3541109',
              'cidade' => 'Presidente Alves',
              'longitude' => '-49.43844',
              'latitude' => '-22.10054',
              'código' => '3541109',
              'estado' => 'SP'
            };
    3541109,"Presidente Alves",SP
    ...

Outras coisas que valem a pena serem estudadas são bind_columns, que associa os campos do CSV às variáveis diretamente, e atributos do método new. A configuração padrão é:

    $csv = new Text::CSV({
        quote_char          => '"',
        escape_char         => '"',
        sep_char            => ',',
        eol                 => $\,
        always_quote        => 0,
        quote_space         => 1,
        quote_null          => 1,
        binary              => 0,
        keep_meta_info      => 0,
        allow_loose_quotes  => 0,
        allow_loose_escapes => 0,
        allow_whitespace    => 0,
        blank_is_undef      => 0,
        empty_is_undef      => 0,
        verbatim            => 0,
        auto_diag           => 0,
    });

É fácil ajustá-la para processar arquivos TSV (cujas colunas são separadas por tabs):

    $csv = new Text::CSV({
        quote_char          => undef,
        escape_char         => undef,
        sep_char            => "\t",
        eol                 => "\n",
        quote_space         => 0,
        quote_null          => 0,
    });

Tie::Handle::CSV

Tie::Handle::CSV é a versão easy do Text::CSV :)

Combina muito melhor com um código orientado a objetos, fazendo um bom uso de overloading e normalizando os headers para caixa alta/baixa.

Não é tão suscetível a tuning quanto o módulo que encapsula, mas em 99% dos casos, é exatamente isso que queremos. Segue um exemplo com funcionalidade similar ao anterior:

    #!/usr/bin/perl
    use strict;
    use utf8;
    use warnings 'all';

    use open ':locale';

    use Data::Dumper;
    use Tie::Handle::CSV;

    my $csv = new Tie::Handle::CSV(
        file        => '7marco2011.csv',
        header      => 1,
        key_case    => 'lower',
        open_mode   => '<:utf8', $row="<$csv" (my ); while>) {
        $row->{link} =~ s/^.*=//;
        print STDERR Dumper $row;
        print $row . "\n";
    }

    close $csv;

Vantagem evidente: dispensa comentários. Considerar ambos os sentidos da frase ;)

DBD::CSV

Muitas vezes, quando um projeto está na fase de prototipagem, não compensa "matar passarinho com bazooka" criando schemas em um RDBMS. Outros projetos simplesmente não atingem o threshold mínimo para envolver o SQLite na história, sendo muito mais prático manter as tabelas com apenas um editor de texto. Para unir o melhor dos dois mundos, existe o DBD::CSV, um driver para DBI que trabalha diretamente com arquivos CSV, usando o Text::CSV como backend. A grande vantagem é que o código pode ser facilmente escalado, trocando o driver por qualquer outro e importando as tabelas. Quanto ao subconjunto de SQL implementado, posso dizer que é suficientemente completo.

Vamos ao exemplo, com o mesmo conjunto de dados do exemplo anterior. Dessa vez, expandimos a sigla de UF para o nome do estado (através de um JOIN), e mostramos somente os municípios que fazem parte da Grande São Paulo:

    #!/usr/bin/perl
    use strict;
    use utf8;
    use warnings 'all';

    use open ':locale';

    use DBI;

    my $dbh = DBI->connect('dbi:CSV:', undef, undef, {
        f_encoding  => 'utf8',
        csv_tables  => {
            llcb    => { file => '7marco2011.csv' },
            estados => { file => 'estados.csv' },
        },
        RaiseError  => 1,
        PrintError  => 1,
    }) or die "Erro com DBI/DBD::CSV: " . $DBI::errstr;

    my $sth = $dbh->prepare(< -23.80)
            AND (latitude   <-23.20) (longitude and> -47.10)
            AND (longitude  <-46.10) $sth- by cidade order sql_query>execute;
    while (my $row = $sth->fetchrow_arrayref) {
        printf("%s, %s\n", @{$row});
    }
    $sth->finish;
    $dbh->disconnect;

Além de SELECT (com JOIN e ORDER!), INSERT, DELETE e UPDATE também são implementados. A documentação completa está em SQL::Statement::Syntax.

APÊNDICES

Acelerando com o Text::CSV_XS

Quando o módulo Text::CSV_XS está instalado, o Text::CSV automaticamente faz o uso do mesmo, proporcionando performance consideravelmente maior:

                 s/iter Text::CSV_PP Text::CSV_XS
    Text::CSV_PP   23.6           --         -90%
    Text::CSV_XS   2.27         941%           --

Retornando CSV via HTTP

Em várias ocasiões, gostaríamos que os usuários pudessem exportar os dados dos sistemas online diretamente para os seus desktops. É só uma questão de configurar os headers corretos para que o sistema do usuário encaminhe a planilha diretamente para o aplicativo especializado (Excel, LibreOffice), ao invés de exibir o conteúdo do CSV na tela do navegador.

Tomando o Catalyst como exemplo:

    $c->res->headers->content_type('application/vnd.ms-excel; charset: iso-8859-1');
    $c->res->header('Content-Disposition' => 'attachment;filename=' . $filename);

Previsivelmente, temos um caveat relativo à codificação: Excel espera que o CSV esteja em ISO-8859-1 (ou, possívelmente, Windows-1252), então um downgrade para latin1 faz-se necessário.

Google Fusion Tables

Uma vez que temos uma quantidade razoável de dados em formato CSV, fazer um overview de uma forma rápida e intuitiva pode ser um problema. Principalmente quando é necessário mostrar os dados para leigos (que não tem obrigação de saber SQL). Neste caso Fusion Tables, um experimento do Google Labs, é de grande ajuda.

Segundo a descrição do próprio Google:

     Fusion Tables é um serviço para gerenciar grandes coleções de dados
     tabulares na nuvem. Você pode enviar tabelas de até 100 MB e
     compartilhá-las com colaboradores, ou torná-las públicas. Você pode
     aplicar filtros e agregação aos seus dados, visualizá-los em mapas
     e em outros gráficos, mesclar os dados de diversas tabelas e
     exportá-los para a web ou para arquivos csv. Você também pode
     conduzir discussões sobre os dados em diversos níveis de granularidade,
     como linhas, colunas e células individuais.

Comentário do autor: nada mais é do que um Excel on steroids, além dos filtros é possível fazer joins e criar views. Para demonstração, o arquivo que usei como exemplo no decorrer desse artigo, o dump do banco de dados do projeto Latitudes e Longitudes das Cidades Brasileiras do Thiago Rondon, encontra-se aqui: http://j.mp/hyoYqi

mysqldump/mysqlimport

MySQL oferece importação/exportação otimizada para arquivos CSV localizados no mesmo host aonde o servidor (mysqld) está rodando. Trocando em miúdos, tendo certos privilégios, podemos "passar por cima" do sistema de queries:

    mysqldump \
        --fields-terminated-by="," \
        --fields-optionally-enclosed-by="\"" \
        --lines-terminated-by="\n" \
        -u $USERNAME -p -t -T/caminho/para/diretorio $DATABASE

Este comando grava todas as tabelas de $DATABASE em arquivos CSV individuais em diretório /caminho/para/diretorio. É necessário que esse diretório tenha permissão para gravação aberta para o usuário que executa o daemon, pois os arquivos CSV são gerados diretamente pelo mesmo, e não pelo mysqldump!

A importação é feita da seguinte maneira:

    mysqlimport \
        --fields-terminated-by="," \
        --fields-optionally-enclosed-by="\"" \
        --lines-terminated-by="\n" \
        -u $USERNAME -p $DATABASE table.csv

O nome da tabela onde será feita a importação é deduzido do nome do arquivo CSV (table, nesse caso).

Para mais detalhes, ver:

REFERÊNCIAS

AUTOR

Stanislaw Pusep stas@sysd.org

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